O que leva uma pessoa “normal” a ser um técnico de basquetebol? Eu sempre tento achar respostas para este difícil questionamento. Mas reconheço que não tenho tido muito sucesso. O que leva uma pessoa a passar inúmeros fins de semana longe de sua família, estar numa profissão sem um plano de carreira, perder noites e mais noites de sono porque perdeu um jogo que não podia perder ou porque precisa achar um bom plano de jogo para o dia seguinte, se preocupar com a vida pessoal de seus atletas como se fossem seus filhos, ser um profissional com múltiplas funções e receber seu minguado salário com atraso, pertencer a um esporte extremamente mal administrado, entre outros muitos fatores complicadores.
Qualquer um pode ser técnico de basquete. Basta desejar. Não existe nenhum pré-requisito. Quantos não são os casos de pessoas que nunca dirigiram uma equipe e assumem um cargo na categoria adulta. Não importa se este indivíduo foi ex-atleta ou não. Ser jogador é algo completamente diferente de ser técnico. É como achar que um aluno brilhante será um professor de igual desenvoltura. Se considerarmos que a ação de um técnico é um processo educacional (e isto é uma lídima verdade), não há como conceber um indivíduo nesta função sem conhecimentos avançados de pedagogia. Entende-se pedagogia como a reunião de saberes para educar. Portanto, por mais que alguém saiba o que fazer, terá também que dominar os caminhos de como ensinar. Caminhos tortuosos, por sinal... Sem muito estudo e experiência na função, não há como obter sucesso no ponto mais alto deste duro ofício.
Além disto tudo, o treinador deve ter uma formação multidisciplinar. Ele precisa ter noções de todas disciplinas que envolvem o esporte (fisiologia, psicologia, administração, sociologia, etc...). O técnico deve ser um administrador de alto nível, tendo que lidar com todas as variáveis de jogo, as situações extraquadra e as nuances do grupo. Coisa de “super-homem”...
Mas como exigir de um profissional uma formação integral e bem estruturada numa carreira onde não existe hierarquia ou meritocracia. Quantos não foram os técnicos que trilharam caminhos de muito sucesso e realizações (títulos, formação, estruturas, etc) em categorias de base e jamais tiveram chance no adulto. Enquanto outros assumem grandes equipes sob a simples razão de terem encerrado seu ciclo como jogadores. Tudo muito injusto... O que dizer de uma estrutura onde todos são profissionais (técnico, auxiliar, médico, fisioterapeuta, roupeiro, etc), mas quem toma as decisões, os dirigentes, são amadores? Que critérios ele terá para fundamentar sua escolha? Muito provavelmente o marketing de escolher um ex-jogador famoso ou, simplesmente, optar por um amigo. Qual a formação deste profissional? Qual sua experiência na função? Quantos cursos ele já fez? Quantos jogadores formou? Isto é tudo bobagem!
No meio deste mundo louco do basquetebol surgem os mais variados tipos de técnicos. A maioria deles despreparados e caricatos. Refletindo sobre nossa realidade, procurei caracterizar os tipos mais comuns:
O técnico torcedor: incapaz de dar uma instrução consistente, ele é o rei do “vamos lá” e da filosofia de botequim para motivar seus jogadores.
O técnico desconfiado: jamais trabalha com auxiliares. Preocupa-se o tempo todo em quem pode “derrubá-lo” e se esquece de preparar seu time.
O técnico teórico: sabe o que tem que fazer, ministra treinos maravilhosos, mas se perde totalmente nas situações de jogo.
O técnico explicadinho: a culpa é sempre da arbitragem ou do erro dos jogadores ou da falta de estrutura...
O técnico preguiçoso: acha que treino técnico é para garotos. O rei dos coletivos e da dupla de arremesso. Eu resolvo com minha experiência...
O técnico americanizado: ouviu falar de um esquema tático americano. O adota sem levar em consideração as características dos jogadores ou sua adequação a nossa realidade.
O técnico presunçoso: ele acha que não há necessidade de estudar, assistir jogos, participar de clinicas e congressos ou se reciclar. Ele sabe “tudo” e acaba ficando ara trás, embora os dirigentes insistam em não notar.
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